Hoje, relembro o que um dia julguei ter esquecido – quem julguei ter esquecido.
Recordo o que um dia quis esquecer – quem um dia quis esquecer.
Hoje, um ano após uma data, qualquer coisa que se tenha que celebrar,
Comemoro sozinho a memoria.
Talvez possa comemorar um olhar, o cruzar de uma mirada perdida de encontro á tua pupila dilatada encontrada no meio desse vasto raiar castanho da tua íris, perdida na imensidão dos teus grandes olhos, grandes e profundos olhos. Grandes e profundos e belos olhos teus.
Talvez possa celebrar um abraço, o circundar o teu corpo com os meus braços e deixar-me adormecer no teu regaço, rodeado pelos teus, a apertar-me, a puxar-me ao teu encontro a embalar.me. eu a sentir a tua pele na minha, colada, estampada, tatuada na minha.
Talvez possa celebrar um beijo, o unir dos nossos lábios, húmidos e carnosos, o saborear da tua língua em mil sabores de paz, êxtase e adrenalina, a dança das nossas línguas, brincadeiras e jogos de encontros e perseguições das nossas línguas vivas nas nossas bocas inundadas em saliva.
Talvez possa comemorar o aniversario de qualquer coisa que nos tenha servido de elo e que um dia nos ligou, nos uniu.
Hoje, tal dia faz um ano…
1 comentário:
Memórias Presentes
“Incessantemente uma folha se destaca da roldana do tempo, cai e é carregada pelo vento - e, de repente, é trazida de volta ao colo do homem. Então, o homem diz:«eu lembro-me», e inveja o animal que imediatamente esquece e vê todo o instante realmente morrer imerso em névoa e noite e extinguir-se para sempre.”
Friedrich Nietzsche
“A tua memória passa através dos factos como de uma fila de vidraças, ou de estações, ou de folhas de álbum. Às vezes, porém, paras numa, e é como se toda a vida se fixasse aí. E giras em torno, numa obsessão. Somente às vezes também, em vez de te fixares realmente, quando menos o julgas estás parado noutra folha, noutra janela, noutra paisagem.”
Vergílio Ferreira, in 'Estrela Polar'
“A melhor parte da nossa memória está deste modo fora de nós. Está num ar de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, seja onde for que de nós mesmos encontemos aquilo que a nossa inteligência pusera de parte, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando se esgotam todas as outras, sabe ainda fazer-nos chorar.”
Marcel Proust, in 'A Fugitiva'
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