sexta-feira, março 18, 2005

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A silhueta do teu perfume na minha cama.
A tua companhia. A companhia de ti. Respirei-te toda a noite. Sonhei contigo. Ainda ali deitada. Encolhida. Numa natural posição fetal. Como quem procura protecção. Frágil. Dobrada.
Não me deitei na agora habitada cama. Habitada pela presença do teu doce perfume. Eu. Estático. Fitava-te. Como se ainda ali estivesses. Fitava-te como se não me tivesses virado as costas e tivesses partido. Abandonado. Fitava-te como se nunca tivesses saído pela porta do meu quarto, pela porta da minha casa. A tua presença, ausente, permanece presente. Eu imóvel. Imutável. Contemplando. Tocando. Te. Tocando a tua ausência com o olhar. Percorria o teu corpo com o tacto de um olhar puro, vazio de maldade. Olhar de criança. Criança que admira o desconhecido por uma primeira vez. Éramos. Duas crianças. Perdidas na nossa inocência de criança.
O tempo passa lentamente e sussurra-te ao ouvido. A noite avança e protege-te. Dormes insciente. Alheia ao “mundo desperto”. Sonhas. Vais sonhando. Eu. Começo a contorcer-me. A dor da podre, carunchosa madeira alastra ao meu corpo. O cansaço. Lentamente perco a tua presença. O olhar vagueia, o tacto transcende. Apenas o olfacto serve de elo. Me liga a ti. Vou perdendo os sentidos. A percepção. A que não tive. A do real. Da realidade. Adormeço…
Acordo. De manhã! Tu!?... Não estás… tento encontrar-te. Cheiro o teu perfume. Permaneces ali. Deitada. Dobrada. Pura. Apenas a silhueta do teu perfume na minha cama…